Desde que o coronavírus surgiu no Brasil – dia 26/02 foi confirmado o primeiro caso – diversas empresas vêm tentando criar novos modelos de trabalho. Um dos setores que está no centro dessa nova configuração é o recursos humanos. Em muitas empresas, a gestão de RH na pandemia ficou responsável por liderar organizações para o home office e/ou remodelar os processos internos. Sendo assim, não há dúvidas que o departamento pessoal e os recursos humanos ganharam posições ainda mais estratégicas com a pandemia.
Sendo assim, reunimos 5 empresas e profissionais de RH que nos contaram ao longo deste período de indecisão como o setor se transformou, os desafios, as áreas que tiveram maior impacto e o que estão observando durante esta mudança de paradigmas.
São elas a Movile, Fundação São Francisco Xavier (FSFX), Vai lá e Faz, Loft e digio. Para algumas, a gestão de RH não teve grandes surpresas já que a empresa caminhava para o teletrabalho ou tinha processos definidos para isso. No entanto, para a maioria dos departamentos de RH, foi uma reviravolta. Tanto que algumas empresas brasileiras já determinaram que não voltam mais aos escritórios, enquanto outras apenas em 2021.
Que tal conhecer essas histórias e ouvir as experiências de equipes de RH para adaptar suas funções? Aliás, dividimos este artigo em tópicos para que você possa navegar de forma mais fácil entre os temas. Abaixo você tem nosso índice:
Índice
- Como foi a transição para o home office?
- Quais transformação foram as principais para a gestão de RH?
- Novas práticas que poderão se manter
- Lições que o RH está aprendendo com a pandemia
Como foi a transição para o home office?
Cada empresa tem uma realidade diferente e isso foi muito perceptível após a necessidade de se manter o distanciamento social. Segundo a Natália Zeferino, Gerente de Gente na Movile, a cultura home office e flexibilidade do trabalho já faziam parte da empresa. No entanto, ela analisa que o COVID-19 foi peça chave para uma mudança ainda mais acelerada. O que não trouxe grandes surpresas para a empresa que é do ramo da tecnologia e vivencia um mercado que está acostumado com novos cenários. Andressa Paltiano, do programa de TV “Vai Lá e Faz” também comenta o mesmo, como a tecnologia e a digitalização do RH foi essencial para que a transformação rápida fosse possível.
“Tem até aquele meme: o que causou a revolução tecnológica na sua empresa? O CTO, a equipe de tecnologia ou o COVID-19? O COVID-19!” – Natália Zeferino, Movile
Por outro lado, empresas do ramo da saúde, como a Fundação São Francisco Xavier (FSFX) enfrentaram uma adaptação emergencial. O que também teve o peso de estarem na linha de frente do problema: colaboradores da área da saúde e da educação. Nesse sentido, o maior desafio da instituição foi encontrar profissionais da saúde. Além disso, aprimorar os processos de gestão de RH e ouvir os colaboradores sobre a adaptação ao home office. Como nos conta Camila Pires, Analista de Desenvolvimento Organizacional da FSFX, pessoas que lhe relatavam que achavam difícil trabalhar de casa, hoje conseguem fazê-lo. Mas, ela enfatiza que isso depende muito da realidade de cada um e ouvir cada colaborador é fundamental.
Este também foi um momento decisivo para verificar o nível de conforto e satisfação com o home office, ação feita em todas as empresas, entre elas, a Loft. Para Barbara Chiu, People Analytics da empresa, foram feitas pesquisas para sentir como cada área estava lidando com essa nova normalidade.
Queremos saber como os Lofters estão se sentindo no seu novo workplace – que é sua casa -, se estão ok em relação a recursos disponíveis, se gostariam de voltar pro escritório ou gostariam de manter esse trabalho virtual mesmo depois do COVID – Barbara Chiu, Loft
Quais foram as principais transformações para a gestão de RH na pandemia?
Juliana Marin, responsável por desenvolvimento humano e organizacional no digio, aponta a falta de interação física uma dos impactos na rotina dos trabalhadores. Tomar um café juntos, verificar se alguém precisa de ajuda ou simplesmente conversar presencialmente sobre uma demanda, foram práticas que ficaram para trás. Entretanto, as reuniões em aplicativos de chamada de vídeo já vinham se tornando frequentes. Dessa forma, um dos maiores desafios foi adaptar essa falta de interação em processos como o onboarding.
A maior dificuldade é sempre que as demais áreas envolvidas entendam a importância do onboarding. Precisamos que todos garantam o que lhes compete, para que o colaborador se sinta bem recepcionado. Queremos que o novo colaborador veja que tivemos o cuidado de olhar os detalhes e que nos prepararmos para a sua chegada – Juliana Marin, digio
Mas como mensurar os efeitos dessas novas estratégias? FSFX e digio usam as pesquisas de satisfação como ferramentas para avaliar o novo processo para seus colaboradores recém chegados. Camila, da Fundação, destaca que é necessário pensar no virtual, como criar uma experiência amigável, atrativa e que permita que o colaborador fique entusiasmado. Afinal, ele quer saber sobre a empresa em que irá trabalhar e captar essa motivação é fundamental no começo da trajetória do colaborador.
Andressa Paltiano concorda que o processo de recrutamento e seleção sofreu mudanças revolucionárias, mas que outro problema também foi exposto: a recolocação no mercado. Como muitos trabalhadores perderam seus empregos, a busca por espaço no mercado de trabalho se tornou mais comum. Para ela, é essencial que os profissionais de RH unam forças para auxiliar gratuitamente quem precisa desse auxílio no momento.
Novas práticas que poderão se manter
Outro tópico interessante é quais projetos desenvolvidos ao longo da quarentena pela gestão de RH são vistos como promissores. Barbara Chiu, da Loft, cometa que a análise de dados foi crucial neste momento para a tomada de decisões. Mais do nunca a área de People Analytics pode contribuir para analisar a estratégia de benefícios, revisão de headcount e produtividade/worklife balance em virtual office.
Temos repensado nossos processos internos, com a pegada de “arrumar a casa” e sairmos mais fortes desse momento. Precisamos nos adaptar rápido ao contexto, tirar boas lições disso e estarmos melhor preparados para o cenário pós-COVID – Barbara Chiu, Loft
Além disso, também está em alta a discussão sobre novas estruturas, qual será o futuro dos escritórios? A conversa está longe de acabar, mas como você deve saber, empresas já relatam que o home office pode ser uma realidade abraçada desde agora. Opinião que é compartilhada por Andressa Paltiano, segundo a profissional, era uma prática que já vinha se consolidando e agora não há como o RH escapar.
Aliás, o setor terá que ser um suporte para o home office. Entre as soluções encontradas pela digio, está a ideia da construção de hubs por diversas cidades brasileiras. Formato rotatório de trabalho em que o colaborador usa o espaço quando precisar: uma forma de ressignificar o modelo de escritórios tradicionais.
A saúde mental dos colaboradores também é tema da gestão de RH na pandemia. Iniciativas como da FSFX de oferecer psicólogos e médicos à disposição do colaborador foram inéditas no cenário de trabalho. Desde o início a Fundação disponibilizou a teleconsulta com esses profissionais e manteve em sigilo a identificação dos colaboradores. Outra estratégia foi a criação de lives com profissionais especializados nos temas.
A ação da live também é focada em saúde mental. Por exemplo, o próximo é sobre convívio familiar em tempos de pandemia. As lives foram um auxílio para lidar com o momento, esse é um projeto que nasceu na pandemia e que veio para ficar – Camila Pires, FSFX
Já a Movile aproveitou essa lacuna para colocar em prática um bot de saúde mental. Ele estava em fase de desenvolvimento e foi lançado com rapidez com a chegada do home office. No entanto, Natália Zeferino relata que o começo foi mais difícil. As primeiras semanas mostraram a insegurança de alguns colaboradores com a situação – o que era normal de se esperar – e uma das estratégias foi colocar a liderança para falar sobre o tema. Conversar sobre angústias e preocupações, o que deu um respiro no círculo de trabalho da empresa.
Lições que o RH está aprendendo com a pandemia
Nestes meses que continuam sendo cheios de desafios, nossas entrevistadas contam que este também é um momento de aprendizado. Para Andressa Paltiano, a revolução digital no RH foi um marco decisivo. Entre as operações que ela aponta que sofreram transformações no cenário de automatização de processos, recrutamento, avaliação de desempenho, capacitação e DP tiveram grande impacto.
Estou vibrando com tudo que vem acontecendo, pois há um ano atrás estava praticamente sozinha brigando para que os profissionais de RH buscassem a transformação digital, e hoje o cenário bem ou mal, já evolui bastante, porém ainda reforço que aqueles profissionais que forem resistentes a esse tipo de mudança, infelizmente serão engolidos pelo mercado, não há mais espaço para ser off-line em RH ou em qualquer outra atividade – Andressa Paltiano, Vai Lá e Faz
Outro aspecto que ficou em evidência foi a necessidade de manter o RH humanizado. É que nos diz Camila Pires, apesar do momento incerto, é a hora de todos praticarem lideranças mais empáticas, colaborativas e flexíveis. Detalhes agora são os responsáveis por comunicar valores e cuidados com o próximo, como enviar cartões de agradecimentos para toda a equipe. Ação desenvolvida por Camila na FSFX que alcançou cerca de 7000 colaboradores da empresa.
Aliás, o colaborador continuará de forma ainda mais reforçada, o principal capital da empresa. No digio, Juliana Marin comenta que o senso de coletividade será mais presente como ferramenta para solucionar problemas, e que a sensibilização continuará nesse sentido. Outra experiência interessante é na Loft, em que os líderes estão sendo treinados para se manterem bons gestores em tempos de pandemia. Afinal, ninguém estava preparado para um obstáculo como esse.
E quem vai ser capaz de se destacar na gestão de RH pós-pandemia? Camila Pires indica que serão empresas que tiveram preocupação pelos funcionários, a forma como atuaram e como cada um foi valorizado. Mesmo que a tecnologia tenha tido um espaço decisivo nesta época, a experiência proporcionadas por ela será o legado na gestão de RH na pandemia.
As empresas que serão lembradas no futuro e que serão destacadas são aquelas que tiveram maior cuidado com os colaboradores. Isso ficará marcado nas pessoas e é a marca e legado que queremos deixar na vida delas – Camila Pires, FSFX