Quando falamos de saúde no trabalho em um mundo pós pandêmico, precisamos entender que as urgências mudaram. E entre as principais tendências deste e dos próximos anos está o bem-estar dos colaboradores. Sem dúvida, a tecnologia é uma grande aliada nesse processo. No entanto, os desafios ainda são imensos.
Nesta entrevista sobre a importância da tecnologia na saúde do trabalho, falamos com alguém que tem conhecimento nas duas áreas. Arthur Lima, CEO da AfroSaúde, conta um pouco da sua trajetória profissional entre o setor da saúde e das Startups.
Veja quais os benefícios e caminhos de trazer a transformação digital como parte das estratégias de prevenção de doenças no ambiente de trabalho econfira dicas práticas para promover estas mudanças no ambiente empresarial.
1. Pensando sobre a saúde no trabalho e o seu background na área da saúde, como foi a sua imersão na área da tecnologia? E como o processo de criar a AfroSaúde ocorreu?
Foi “ao acaso”. Eu tive a ideia da AfroSaúde sem saber muito sobre empreendedorismo e startups. Como sempre fui muito curioso, decidi buscar formas de me qualificar sobre esses temas. E descobri que eu tinha outras habilidades para criar e tocar um negócio. Então, eu e o Igor, meu sócio, decidimos ir adiante.
Na época eu já desejava fazer uma transição de carreira, mas não sabia como. Encontrei um curso online chamado: “Como tirar a sua startup do papel?”. E à medida que ia completando o curso, eu fazia o rascunho e planejamento da AfroSaúde.
O planejamento continha: modelo de negócios, perfil do cliente, proposta de valor etc. Fui aprendendo durante o processo, mas participei de alguns programas que me ajudaram na jornada.
Primeiro, foi uma aceleração de negócios da Vale do Dendê. Logo, um Fellowship internacional pela Yunus&Youth sobre empreendedorismo social. Cheguei a um ponto onde consegui unir a minha expertise sobre saúde no trabalho com o que aprendi na jornada sobre tecnologia e empreendedorismo.
Uso todo esse conhecimento para ser aplicado tanto no produto principal da AfroSaúde, que é a plataforma, mas também nos projetos e em algumas atividades profissionais minhas, como palestras sobre saúde e diversidade.
2. O que mudou na sua carreira ao ser reconhecido pela “Forbes Under 30” e pelo MIPAD100/ONU, como Um dos 100 afrodescendentes mais Influentes do mundo? E quais são os seus projetos pessoais para o futuro relacionados à saúde no trabalho?
Foram duas chancelas importantes que dizem muito sobre a qualidade e o impacto do meu trabalho. Foram portas abertas tanto para mim, quanto para a AfroSaúde. Pois conseguimos prospectar algumas parcerias e fechar alguns projetos. Também ajudou muito no processo de captação de investimentos para a AfroSaúde.
Pouco tempo depois desses dois reconhecimentos, recebemos um investimento do Google For Startups através do Black Founders Fund, e um grant de uma organização internacional chamada We Are Family Foundation. Essa organização apoia pessoas e projetos voltados para o combate ao racismo. Finalmente, em agosto de 2021, veio o nosso primeiro angel investor.
Pessoalmente, meu trabalho passou a ser mais reconhecido e ganhei relevância dentro do mercado corporativo, coisa que achava que demoraria para acontecer. Há dois anos atrás eu vivi uma crise profissional muito forte. Recebi muitas negativas de empresas por não ter a experiência suficiente ou por não ter “fit cultural” com a empresa.
Hoje, dialogo com empresas levando uma pauta importante sobre diversidade e saúde, tema que não é muito abordado no Brasil. Além disso, tenho um projeto pessoal em oferecer consultoria para as empresas. Nesse projeto, trago esse olhar da diversidade no processo de construção de produtos voltados para a saúde no trabalho.
Seja tecnologia, materiais ou dispositivos, trabalho para que tudo para contribua com a redução de vieses e desigualdades.
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3. Qual o checklist que não pode faltar para os recrutadores que vão contratar profissionais da área de tecnologia?
É um mercado que está superaquecido no momento e são os profissionais mais disputados. Profissionais de tecnologia do Brasil são referência. E muitos estão aqui no Brasil prestando serviços para empresas estrangeiras.
Acredito que o diferencial para um profissional da área não seja o conhecimento técnico. E sim habilidades de relacionamento com pessoas e atividade em equipe. As soft skills de: comunicação, diálogo, resiliência, pro atividade e escuta ativa. Para mim, são pontos importantes que os recrutadores precisam ter atenção.
As habilidades do futuro serão mais sobre soft skills do que o simples conhecimento técnico.
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4. Com base nos seus estudos, existe uma diferença de como a saúde mental de pessoas pretas é afetada em ambiente de trabalho quando comparada com às brancas? Quais são elas?
Sim, existe diferença sobre a saúde no trabalho entre esses dois grupos. No meu mestrado, eu pesquisei sobre qualidade de vida e ansiedade em dentistas durante a pandemia da COVID-19 e encontrei disparidades raciais como um dos resultados.
Dentistas afrodescendentes possuíam maior prevalência de ansiedade, quando comparados aos dentistas brancos. Algumas das explicações estão relacionadas às maiores instabilidades financeiras sofridas pela população negra.
Outras, relacionadas com menos oportunidade de trabalho, salários mais baixos, pressão no ambiente de trabalho. Além de outras questões frequentes que já são conhecidas por adoecer mentalmente os afrodescendentes.
5. Poderia compartilhar algumas das propostas que você acredita serem essenciais para melhorar a saúde no trabalho e a qualidade de vida dos colaboradores?
Melhorar o ambiente de trabalho é melhorar a saúde no trabalho. Seja ele presencial, home office ou híbrido. No meu programa de mestrado (Saúde, Ambiente e Trabalho), existem muitas pesquisas com diferentes classes ocupacionais. Nelas se discute muito sobre a qualidade do ambiente em que trabalhamos. E como esse ambiente pode ser o grande responsável pelo adoecimento dos trabalhadores.
Aqui, entendemos o ambiente de um modo mais amplo. As questões físicas como: ruídos, local de trabalho etc. fazem parte disso. Além de algumas questões organizacionais. Por exemplo, hierarquias do organograma, trabalho sob demanda, pressões constantes etc.
É importante que as empresas tenham esse olhar mais amplo e atento para os múltiplos fatores que podem interferir na qualidade de vida dos trabalhadores. E pensar ações para reduzir ou mitigar esses riscos, que podem ter efeitos irreversíveis.
6. Quais são os benefícios em combinar tecnologia e gestão de pessoas em prol da saúde no trabalho? E quais são os maiores desafios hoje para que isso ocorra?
A tecnologia otimiza alguns processos na gestão da saúde do trabalho na questão do tempo e também organização. A automatização de processos contribui muito para acelerar alguns processos e eliminar até algumas fases burocráticas que podem ser cansativas para o dia a dia do trabalho.
Porém, acredito que o desafio esteja relacionado ao equilíbrio no uso dessas tecnologias. Primeiro, não podemos perder a humanização do processo de trabalho. E segundo, precisamos tomar cuidado, porque até o que nos ajuda, pode nos atrapalhar e nos adoecer.
Um dos maiores desafios é encontrar esse equilíbrio para evitar que as pessoas adoeçam por conta do trabalho. Por exemplo, evitar o excesso de tempo em tela, mensagens fora do horário de trabalho e assédio virtual são algumas das consequências. Precisa existir equilíbrio entre o humano e o tecnológico.
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7. Entre as ações realizadas pela AfroSaúde estão os cursos, a comunidade, os eventos online. Quais os próximos passos da startup? E quais as dicas você daria para quem não é da área de tecnologia mas gostaria de entrar nesse universo?
A AfroSaúde agora irá desenvolver projetos temáticos dentro de empresas e também alguns projetos de responsabilidade social, junto a outros parceiros. Em 2021, iremos ofertar a nossa plataforma de saúde para atender principalmente empresas que possuem um forte compromisso com a diversidade racial. Parte das empresas não se atentam que alguns benefícios não são representativos e é nesse ponto que a AfroSaúde irá trabalhar.
8. E para finalizar, você poderia citar alguns dos projetos sobre saúde no trabalho que te inspiram dentro e fora do Brasil? Quais são as suas referências sobre o assunto?
Percebo que as discussões sobre saúde no trabalho no Brasil ainda são incipientes e focadas somente na saúde mental. Claro que é a pauta do momento, mas existem muito mais temas além desse.
Sou muito inspirado pelas produções científicas do meu programa de mestrado, que mescla os pilares da Saúde, Ambiente e Trabalho. Há alguns anos a universidade já discute sobre saúde mental no ambiente de trabalho, mas também outros processos de adoecimento.
Um exemplo desses estudos são sobre doenças por esforço repetitivo e distúrbios musculares. Se pensarmos que nos últimos dois anos a casa virou nosso trabalho e o trabalho a nossa casa. Nesse ambiente, existem outros riscos por trás disso que ainda não estão sendo comentados.
Os problemas de ergonomia, sedentarismo, má-alimentação etc. muitas vezes não são considerados nesses estudos sobre saúde no trabalho. E tudo isso já era discutido lá no programa em que estudo. Por isso, eu faço essa união sobre os conhecimentos científicos com o empreendedorismo e inovação. Com a finalidade de construir soluções inovadoras e condizentes com a realidade.
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