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Felicidade corporativa: crie um ambiente de trabalho mais feliz

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6 minutos de leitura
felicidade corporativa entrevista

Entrevista com Renata Rivetti, da Reconnect.

Em tempos de crise como este, cada um de nós luta para conseguir lidar com os novos desafios pessoais e profissionais que surgiram nos últimos meses. Diante desta realidade, alguns dos temas mais relevantes dentro das empresas têm sido a felicidade corporativa e importância da saúde mental dos colaboradores.

Sabendo da importância desta discussão, a Factorial traz uma entrevista com Renata Rivetti, especialista em felicidade corporativa. Com o propósito de ajudar pessoas a assumirem a responsabilidade por sua felicidade e assim, transformarem a si e influenciarem seu trabalho e a sociedade, Renata fundou a Reconnect. Desde então, ela ajuda empresas e profissionais a aplicarem a felicidade corporativa no ambiente de trabalho.

Como Chief Happiness Officer (CHO), Renata explica nesta entrevista as responsabilidades de seu cargo e dá algumas dicas de como podemos aplicar este conceito nas empresas de forma prática e eficiente.

Já pensou que investir em felicidade no trabalho pode ser exatamente o que falta para engajar ainda mais seus colaboradores? Quer saber mais sobre este tema incrível? Confira abaixo a entrevista completa!

Antes de mais nada, pode nos contar um pouco sobre sua trajetória profissional? Como começou a sua relação com a área de Recursos Humanos e o como se tornou Chief Happiness Officer (CHO)? O que você faz exatamente?

Fiz administração na FGV de São Paulo e comecei a minha carreira em marketing. Teve um momento em que comecei a questionar meu propósito de vida e meus interesses, então vi que queria trabalhar mais com pessoas. Comecei a trabalhar com desenvolvimento de pessoas, estudando psicologia positiva. Fiz uma pós na PUC, busquei várias certificações internacionais me tornei instrutora de mindfulness.

Depois de um tempo comecei a estudar especificamente a felicidade corporativa, me tornei Chief Happiness Officer (CHO) e através de uma parceria com a empresa Happiness Business School de Portugal, eu trouxe para o Brasil os serviços e formações que temos hoje.

Basicamente nós trabalhamos aqui em duas frentes. Em primeiro lugar, atuamos como consultoria, fazendo um plano de felicidade organizacional. O CHO é a pessoa que faz o diagnóstico e mede a felicidade na empresa para desenvolver  um plano de ação com as pessoas.

“A ideia não é mudar o que o RH faz, mas entender e fortalecer o que está sendo feito de bom e também atuar em novas frentes. Levamos um plano de felicidade organizacional para as empresas para tentar aumentar o engajamento, a produtividade e principalmente a felicidade dos colaboradores.”

É importante desmistificar o que é felicidade. Ela atua em dois grandes pilares: É uma busca por satisfação e prazer, mas também envolve as ideias de significado e propósito. Então quando chegamos em uma empresa tentamos entender se esses pilares estão sendo trabalhados. Isso é feito primeiramente através de uma pesquisa quantitativa e depois por uma qualitativa conversando com os colaboradores e liderança.

A outra frente em que atuamos é a formação de outros CHO. Temos um curso de 3 dias com toda a metodologia de Portugal. Nele apresentamos a teoria da ciência da felicidade, toda a metodologia relacionada, e a partir disso começamos a trabalhar em um plano prático. Normalmente as pessoas que procuram o curso são de RH ou consultores.

O que significa felicidade corporativa, na prática?

Para citar exemplos: As frutas no andar são um fator de satisfação, como as festas de final de ano ou um dia de folga no aniversário. Mas temos que transformar isso em algo que tenha um significado. O que garante a felicidade? É preciso transformar um plano de ação que de repente é algo simples em algo maior. Por exemplo, além de colocar frutas no andar, porque não levar também uma nutricionista, falar de nutrição e saúde com os colaboradores? Sair de uma ação básica para algo que tenha mais significado é importante.

Outro ponto que nós reforçamos muito são os resultados, ou seja, de a pessoa deve entender como o seu trabalho agrega para a empresa e às vezes até para a sociedade. 

“Muitas vezes o colaborador não entende como o trabalho dele é importante e como reflete de forma geral na empresa. A felicidade passa por esta questão de a pessoa ter essa noção de como ela contribui para o todo.”

Qual é a vantagem para uma empresa em investir em práticas de felicidade corporativa? Como avaliar se este investimento vale a pena?

Na verdade investir nos colaboradores já é algo importante. A empresa consegue com isso ver resultados muito óbvios, como a melhoria na qualidade nas relações, pessoas mais motivadas e engajadas e emoções positivas.

Isso já mostra resultados muito fáceis de perceber. Mas existem também outros fatores que a empresa pode detectar depois, como o aumento da produtividade, menor turnover, menor absenteísmo, e até menos problemas com segurança. Então há vários aspectos que são medidos depois e que a princípio não são tão óbvios no dia a dia.

Quando a gente se sente mais feliz e percebe que aquela empresa tem um propósito para nós, nos dedicamos mais. Então essa felicidade que sentimos influencia na nossa produtividade.

De quem é a responsabilidade pela felicidade no ambiente do trabalho? O papel principal é do RH, dos gestores?

Eu acho que é uma via de mão dupla. O colaborador tem sim uma auto responsabilidade dentro da empresa. No entanto, o RH normalmente é a área que olha de forma estratégica para a empresa como um todo e que motiva o debate sobre estes temas. A liderança também é essencial, porque não adianta o RH falar sobre felicidade e os gestores não estarem engajados no tema.

Então eu acho que é importante haver uma participação de todos, tanto individual, de cada colaborador, quanto da liderança, que tem um papel fundamental na felicidade corporativa. E por fim do RH,  que tem esse papel de liderar e motivar as pessoas a assumirem o tema no dia a dia da empresa.

Com o aumento do número de pessoas em home office, uma das necessidades mais urgentes das empresas foi de digitalizar processos e atividades. Na sua visão, qual é a importância da digitalização e da tecnologia pra otimizar o dia a dia dos colaboradores? Isso influencia em um ambiente de trabalho feliz e produtivo?

A tecnologia com certeza tem um papel importante. O home office trouxe vários desafios porque as pessoas começaram a misturar muito vida pessoal e profissional. Esse momento trouxe muita flexibilidade e autonomia, que são temas da felicidade. Hoje em dia a gente está passando de uma micro gestão, em que o gestor olhava cada ação do colaborador, para uma avaliação de resultados. Acho que isso ajuda no tema da felicidade.

“Normalmente a tecnologia facilita esta autonomia do colaborador e a flexibilidade que ela traz para quem trabalha é muito positiva. Mas tem também o lado negativo. Temos que tomar cuidado com o quanto nós nos tornamos cada vez mais ansiosos.”

A tecnologia pode trazer ansiedade, preocupação e o hábito de trabalharmos 24h. Então essa relação tem que ser equilibrada para não entrarmos em um estado de burnout.

Mais do que nunca os gestores buscam soluções para enfrentar os desafios de gerir pessoas de forma eficiente. O que esta crise nos ensina sobre a importância de cuidar da saúde física e mental dos colaboradores?

Acho que essa crise acelerou um processo que já estava acontecendo. Muitas empresas já falavam de saúde emocional e bem-estar, o que sentimos é que isso foi acelerado. Foi feita uma pesquisa que apontou que 60% do RH hoje está preocupado com a saúde emocional dos seus colaboradores. Cuidar de pessoas se tornou a prioridade de muitas empresas.

“Então a parte positiva que eu vejo nesta crise, além de dar mais autonomia aos colaboradores, foi que entendemos que as pessoas são a parte mais importante de uma empresa, ou seja, são elas o grande ativo da empresa.”

Olhar para as pessoas virou a prioridade neste momento e isso é excelente.

A cultura do hard work ainda é muito presente no ambiente de trabalho. Muitos defendem que pra atingirmos nossos objetivos devemos trabalhar incansavelmente. O que você acha disso? Como podemos alcançar um equilíbrio entre produtividade e bem estar?

As pesquisas mostram muitas coisas contrárias a este pensamento. Normalmente as pessoas que têm mais flexibilidade são mais criativas, resilientes e pensam em outras ideias. Estamos em um momento de estudar isso. A psicologia positiva traz a ciência como um meio de entender o quanto estas ideias são ou não verdade. E acho que hoje em dia as pesquisas estão conseguindo mostrar o outro lado, ou seja, que trabalhar 24h não é positivo, que pode te levar a um burnout, por exemplo.

O que a gente percebe é que quase todas as empresas de tecnologia dos Estados Unidos, por exemplo, falam de programas de bem-estar, de mindfullness e de inteligência emocional. Então acho que a tendência é de desmistificar essa ideia de que precisamos trabalhar muito. Começamos a perceber que isso gera resultados, talvez não tão claros e imediatos, mas que a longo prazo traz mudanças mais sustentáveis.

Para você, quais são as principais iniciativas que os líderes podem tomar para incentivar os funcionários neste momento tão delicado?

Conversar. Falamos muito de empatia: Entender cada colaborador e o que eles estão passando. Vimos muitos exemplos de gestores que depois de conversar com os colaboradores conseguiram no final engajar e motivar mais essas pessoas. O bom gestor faz o colaborador admirar a empresa. A liderança é fundamental nesse momento.

Além disso, é importante tentar entender se essas pessoas tem um sentimento de pertencimento em relação à empresa, se elas conhecem os valores da empresa e se elas tem um propósito claro ali dentro.

Saímos de um lugar de job description para uma missão pessoal, como se cada um de nós tivesse realmente a missão de contribuir para o desenvolvimento da empresa.

“O estado de engajamento vem de atividades que me desafiem e que não estejam nem acima nem abaixo da minha capacidade. Achar essas atividades também faz parte do papel do gestor.”

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Bruna Carnevale é Content Manager da Factorial para os mercados do Brasil e Portugal. Com uma formação diversa em comunicação e línguas, se diz cada vez mais apaixonada pela área de RH e acredita que o acesso à informação de qualidade pode ajudar tornar a gestão de pessoas cada vez mais humanizada e eficiente.

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